Maestro

Nome?

    Chamo-me Valter Medeiros e sou natural da freguesia de Relva. Nunca senti necessidade de criar um pseudónimo. Assino sempre o meu nome.

Qual a profissão que desempenha?
Sou sargento músico do Exército, toco fagote na Banda da Zona Militar dos Açores.

Como se sensibilizou para tocar?
Desde muito pequeno que aprecio música, lembro-me bem de ir ver as procissões só para ouvir as bandas. Batia o pé ao ritmo da música e mexia os dedos como se estivesse a tocar um instrumento.
Devo admitir que também deve ser genético, uma vez que tenho vários músicos na família, muitos deles também militares.
O meu pai foi chefe da Banda da Zona Militar dos Açores, e como se costuma dizer “Filho de peixe, peixinho é”
Comecei a aprender música na Banda Filarmónica de Nossa Senhora das Neves (Relva). Ingressei no Conservatório de P. Delgada na classe de clarinete, instrumento que nunca me fascinou. Só mais tarde, já na Banda da ZMA, interessei-me pelo fagote.
Concorri ao Curso Formação de Sargentos e neste momento sou sargento músico na Banda da ZMA.
A música para além de uma paixão tornou-se também na minha profissão e tenho desenvolvido diversos projectos nesta área, nomeadamente a fundação da Orquestra Ligeira da Câmara de Vila Franca do Campo, em conjunto com outros colegas músicos.
Já dirigi algumas filarmónicas, sou coordenador para a ilha de S. Miguel da Orquestra Regional Lira Açoriana, e de à seis anos para cá sou maestro da banda Filarmónica União Progressista de Vila Franca do Campo.

Que músico açoriano mais aprecia?
Acho que temos muitos e bons músicos, não seria justo nomear uns em detrimento de outros. Conheço e tenho tido oportunidade de tocar obras de grande qualidade de compositores açorianos e devo salientar que bastante jovens.

Quando foi fundada a Banda?
A Banda União Progressista foi fundada por António Damião de Medeiros, José Bento da Ponte e Francisco Tavares de Medeiros, em 20 de Abril de 1907, nasceu da necessidade de abrilhantar as festas do Espírito Santo da freguesia de São Pedro, de que era mordomo Francisco Tavares, uma vez que a Banda Lealdade estava já comprometida com outros serviços. Foi então que António Damião teve uma ideia luminosa, formar um agrupamento musical com os instrumentos de uma extinta banda de Ponta Garça.

Qual o género de música que a Banda prefere tocar?
A banda prefere música ligeira, principalmente temas de bandas sonoras de filmes ou grandes êxitos dos anos 80/90 mas também toca música popular, açoriana e portuguesa, clássica etc.
Escolhemos sempre um repertório adequado à ocasião e ao público presente.

Qual o concerto que mais marcou?
Foi sem dúvida o concerto da comemoração do centésimo aniversário da banda. Foi uma honra para mim. Lembro-me que me emocionei muito com o carinho dos músicos mais antigos e com a alegria dos mais novos.
Foi uma data de extrema importância para a Banda e mais um motivo de orgulho para Vila Franca do Campo.
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Já actuou com a Banda fora da ilha?
Sim. A Filarmónica conta com várias presenças em Festivais de Bandas. De salientar as viagens à Ilha de Santa Maria (1986, 2000 e 2009), aos Estados Unidos da América (2004) e à Ilha da Madeira (2006). O Ponto alto da história da Banda foi a comemoração do Centenário da sua existência (2007).

Projectos da Banda?
Neste momento é importante manter os músicos motivados.
  Manter e desenvolver a escola de música pois é uma forma de educar e criar novos músicos


Construir a nova sede, cujo projecto já se encontra assinado. Um novo espaço com melhores

condições e com espaços de convívio é fundamental para manter a dinâmica da Banda.
Temos também uma viagem, ainda este ano, para o continente, mas é um projecto ainda embrião,

pelo que não lhe posso adiantar mais pormenores.

Que importância atribui aos músicos e às bandas na cultura açoriana?
Considero-os de grande importância. As Bandas Filarmónicas fazem parte do nosso património cultural,

numa sociedade maioritariamente católica desempenham um papel fundamental no acompanhamento de

procissões, coroações, festas do Divino Espírito Santo e nos tão animados arraiais das festas.
Por outro lado são uma forma recreativa, inteligente e saudável de ocupar o tempo livre dos jovens

que se interessam por aprender música e/ou a tocar um instrumento musical.

 

in Correio do Açores, 23 Abril 2010, por Afonso Quental